Abaixo, trecho do alentado e excelente ensaio do poeta e acadêmico baiano Florisvaldo Mattos sobre a obra de Jacinta Passos. Admirador e conhecedor da poesia de Jacinta, Florisvaldo publicou este ensaio, intitulado Presença do humanismo militante na obra de Jacinta Passos, originalmente no livro Jacinta Passos, coração militante, publicado em Salvador pela Edufba/Corrupio:
"No processo de libertação da transcendência para a
progressiva assunção de uma consciência social, antes mesmo de firmar-se uma
opção de cunho ideológico sob os ditames de uma agremiação política (sabe-se
que ela em 1945 filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro), Jacinta Passos
começa a delinear um panorama temático com a sensibilidade voltada para uma
gama de preocupações e anseios que futuramente se vão desdobrar e se firmar, a
par com as marchas e contramarchas de um processo político, através de
movimentos, campanhas, organizações, bandeiras, cuja força de atuação irá se
afirmar e crescer, abarcando sucessivos decênios, à medida que o século XX
avança, para se transformar em uma quase neurose, ao irromper o XXI.
Esse
amálgama ideológico que busca se definir numa contracorrente das mudanças
políticas cristaliza-se em torno de um feixe temático que, agindo como doutrina
de múltiplas faces, vai concentrar-se em fenômenos sob a forma de lutas em
defesa da cidadania, do meio ambiente e da internacionalização de propostas
globais de total afirmação das potencialidades do humanismo.
Tenho
para mim que esse painel temático se escalona, arbitrariamente, na seguinte
ordem:
1
- a mulher, a condição feminina, inserida num processo de afirmação e ascensão;
2
- a criança, que desperta a confiança no futuro, a merecer atenção, sendo até
objeto de projetos e programas, em escala mundial, que impeçam venha ela
mergulhar no desamparo;
3
- a natureza, expressada como um bem a serviço da felicidade geral dos homens,
refletindo-se em todos os passos da existência humana, o que pressupõe uma luta
permanente pela sua preservação;
4
– finalmente, a eleição exaltada das manifestações populares como refúgio dos
desassistidos e vencidos pelos desajustes da própria ordem opressora, na qual
se inserem todas as vítimas das desigualdades sociais."
Nenhum comentário:
Postar um comentário