19.12.12

Monografia de Especialização sobre Jacinta


 
 
Acaba de ser anexado aqui mais um trabalho acadêmico sobre Jacinta Passos, que tem a finalidade de iluminar sua atividade jornalística. Trata-se de  “Passagem de Jacinta Passos pelo jornal O Imparcial (1943)”, de autoria de Danielle Spinola Fuad, trabalho orientado pelo Prof. Dr. Luís Guilherme Pontes Tavares.  
O texto originalmente constituiu uma Monografia de Especialização, apresentada ao Centro Universitário Jorge Amado (em Salvador, Bahia), para obtenção do título de Especialista em Jornalismo Contemporâneo, com foco de interesse na História da imprensa feminina da Bahia.
Graças à gentileza de Danielle, a quem agradecemos, sua monografia faz hoje parte deste site. Confira o texto completo na seção "Trabalhos acadêmicos". 

16.11.12

Mais um poema de Jacinta



 
 
nascimento

 
O ano foi vinte e dois [1].  Criatura de desejo

e sonho.  Carne e luar na boca das profecias.
 

Aqui está recém-nascido úmido de lágrimas

e leite, filho das dores, criança concebida

 
na injustiça.



[1] Vinte e dois. Referência ao ano de 1922, quando foi fundado o Partido Comunista Brasileiro (PCB).
 
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"Nascimento" foi publicado pela primeira vez em Poemas políticos, terceiro livro de Jacinta Passos (Rio de Janeiro: Livraria-Editora da Casa do Estudante do Brasil, 1951. 87 p.). Foi republicado em Jacinta Passos, Coração Militante (Salvador: Editoras da UFBA e Corrupio, org. de Janaína Amado, 2010, 579 p.). Integra a série de poemas de cunho explicitamente político da autora.
 
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Foto trazida deste site, mostrando os fundadores do PCB em 1922, ano da criação do partido.


 

16.10.12

Nova seção neste site!




Com alegria inauguramos uma nova sessão neste site, intitulada "Trabalhos acadêmicos" (último subtítulo à esquerda, na página principal deste site). 

Atualmente há vários estudantes de cursos de Graduação e de Pós-Graduação, na Bahia e em outros Estados, de diversas áreas (Letras, Psicologia, História, Antropologia...), pesquisando diferentes aspectos da obra e da vida de Jacinta Passos. Sempre que tomarmos conhecimento desses trabalhos, e sempre que seus autores o permitirem, nós os publicaremos aqui, em versão integral ou parcial, a critério dos autores.

Hoje, anexamos à nova seção seu primeiro texto, a versão integral da monografia "Jacinta Passos: Encruzilhadas da Poética e da Militância Humanista", de autoria de Daise Pereira Machado, com orientação do Prof. Dr. Jorge de Souza Araújo. O trabalho foi apresentado como requisito final para obtenção do grau de de Licenciatura em Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa à Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Agradecemos à autora a permisão para publicar aqui seu trabalho.
 
Se você tiver algum estudo, concluído ou não, sobre Jacinta Passos, entre em contato conosco. Tenho certeza de que os novos trabalhos enriquecerão a compreensão que temos hoje acerca da trajetória literária e humana de Jacinta Passos. E quanto mais seus autores conversarem entre si e conhecerem os trabalhos uns dos outros, mais todos se beneficiarão.  O diálogo ajudará a todos. 

11.7.12

Jacinta Passos normalista


Este é o prédio da Escola Normal da Bahia, onde Jacinta Passos estudou (1927-1932), diplomando-se professora. Formada, Jacinta ensinou Matemática nessa mesma escola. A Escola Normal era uma das poucas opções de estudo oferecidas às mulheres em Salvador, à época de Jacinta.

A Escola Normal da Bahia, fundada em 1836, teve funcionamento intermitente no século XIX, para firmar-se a partir do início do século XX. Situava-se na Av. Joana Angélica, junto ao “Corredor do Caquende”, entre o bairro de Nazaré (onde Jacinta morava) e o centro da cidade.

Fonte da imagem: revista Memórias da Bahia, Salvador, UNCSAL, nº 1, p. 42.

2.7.12

A poeta e as manoqueiras


Quando Jacinta Passos ali viveu, a região de Cruz das Almas, na Bahia, era famosa por suas plantações de fumo de alta qualidade e pela fabricação de muito bons charutos, geralmente preparados por mulheres, cujas mãos mais delicadas separavam as finas folhas do tabaco e as  recheavam, enrolando-as e as colocando em belas caixas de madeira. Algumas fábricas estrangeiras de charutos, como a Suerdieck, operavam em Cruz das Almas à época de Jacinta. A poeta foi sensível a esse mundo do fumo, que aparece inclusive no trabalho das mulheres, as manoqueiras que manocavam o fumo, isto é, que trabalhavam com as folhas. No poema "Canção da Partida", por exemplo, Jacinta inseriu estes versos:   

– Vitalina!

manoca o fumo , menina,

você hoje vadiou.

18.6.12

Opinião de uma leitora, Thereza Araújo






Thereza Araújo conheceu Jacinta Passos, quando ambas moravam no Rio de Janeiro, no início da década de 1950. A poeta e o marido de Thereza, o publicitário Raimundo Araújo, eram comunistas e participavam ativamente da vida política do país, encontrando-se diversas vezes para tratar de assuntos relacionados ao PCB, Partido Comunista do Brasil, ao qual os dois pertenciam. Numa dessas vezes, Jacinta foi à casa de Raimundo, acompanhada da filha, e Thereza então a conheceu.
Esta foi a nota que Thereza Araújo enviou a Janaína Amado, filha de Jacinta, após ler Jacinta Passos, Coração Militante, livro que reúne a obra completa, biografia,  fortuna crítica e iconografia sobre Jacinta, organizado por Janaína:

A visita tão esperada de Jacinta e sua filha aconteceu. Logo as recebi aqui em casa com os meus braços abertos e, parafraseando Manoel Bandeira, "nem precisavam pedir licença""! Revi Jacinta, desta vez sorridente, olhar perscutador e seguro, diferente daquela vez que ainda tenho tão nítida na minha lembrança, segredo passado para Janaina e hoje divulgado com a discreção amorosa de quem sabe de tudo.

Transformada em livro, não mudou, pelo contrário rejuvenesceu. Talvez soubesse desde há tanto que um dia estaria entre nós, destino daqueles que têm a esperança como condão.

Quase que num só olhar, graças à mágica das letras, soube de sua vida e de suas dores, advinhei suas alegrias secretas, vivenciei sua auto-estima mesmo quando foi morar num país sem nome nem endereço. Muitas páginas, muitas horas e muita emoção numa tarde de domingo, junto à janela aberta e muita claridade ao redor de nós.

Sua poesia é para ser lida paulatinamente. Um monte de grãos sobre a mesa a serem não escolhidos mas separados e colocados adiante seguidamente, juntos mas separados como a liberdade que ela tanto amou.

Jana querida, estou escolhendo um bom lugar na minha estante para oferecer à sua mãe. Uma coisa eu lhe garanto, ela vai gostar porque vai ficar muito bem acompanhada, seus amigos já as estão esperando e são muitos. Um beijo, nas entrelinhas aos montes, minhas melhores lembranças e todo o meu carinho.
                                                               Thereza Araújo
 

27.5.12

Poema de amor de Jacinta Passos


Três Canções de Amor

I

Eu fui por um caminho.
Eu também.
Encontrei um passarinho.
Eu também.

Passarinho! queres um ninho?

Eu também.

Passarinho virou um homem.
Ai! meu bem.

Agora és tu,
agora eu sou,
amar é doce,
meu corpo eu dou.

Agora muda o sol.
Eu também.
Agora muda a terra.
Eu também.

Agora mudas tu.
Cadê meu bem?

Tão lúcido e tão puro,
inseguro!

Nosso amor é como tudo,
um vaivém.

Podes virar um passarinho.
Eu também.

Jacinta Passos

[Publicado originalmente em "Canção da Partida", 1944. Republicado em "Jacinta Passos, coração militante", 2010. Junto com esta, as outras duas canções de amor que integram este conjunto de poemas foram dedicadas a James Amado, então marido de Jacinta Passos.]

10.1.12

A coluna de fogo: Ildásio Tavares sobre Jacinta Passos



"Jacinta Passos tinha o dom da poesia. Sabia digerir a realidade e devolvê-la transubstanciada em poesia, lirismo – sempre –, uma dramaticidade pungente e, quando necessário, o sopro do épico. E isso se deve a uma imensa habilidade que ela possuía para versejar; para a metaforização e a alegoria, que são pedras de toque do discurso poético. Outra qualidade básica que Jacinta possui é sua pulsação rítmica. Seus poemas são evidentemente calcados na oralidade, o que é óbvio quando ela recria certas cantigas e folguedos infantis; outras vezes, quando a poeta labora com um verso eminentemente erudito, como o trímetro anapéstico, o eneassílabo acentuado de três em três sílabas, comum no romantismo, como em Gonçalves Dias:

Tu choraste em presença da morte?
Na presença da morte choraste?
Não descende o cobarde do forte,
Pois choraste, meu filho não és.

Ou em Castro Alves:

Cai, orvalho de sangue do escravo,
Cai, orvalho na face do algoz.
Cresce, cresce, seara vermelha,
Cresce, cresce, vingança feroz.

Em Jacinta:o

Cavaleiro que passa a galope
tão veloz no cavalo alazão
o seu nome é Luiz Carlos Prestes,
Comandante sem par, Capitão.

Ela, com incrível habilidade poética, consegue arrumar nomes e coisas prosaicas num metro ágil, veloz, guerreiro, que serviu ao bardo maranhense para seu clássico poema épico “I-Juca-Pirama”, e a Castro Alves, para definir a saga do negro. Muito mais do que a simples habilidade de versejar, já chamava a atenção Otto Maria Carpeaux, está a capacidade de ajustar o metro ao tema, ou o tema ao metro de forma a produzir poesia. Foi o que o ouvido privilegiado de Jacinta percebeu no nome do Capitão. Colocou um é na frente, e já tinha os dois anapestos finais. Com o seu nome, fazendo a sinérese do e de nome com é, ela já armou o trímetro:

O seu no—meé—Luiz—CarlosPres—(tes) hípercatalético"

O trecho acima faz parte do ensaio "A coluna de fogo", que o crítico literário, escritor, poeta e professor Ildásio Tavares ( 1940 -2011) escreveu sobre a obra de Jacinta Passos, especialmente para o livro  Jacinta Passos, coração militante. No seu texto, Ildásio não apenas comprovou a excelência poética de Jacinta, como declarou que a alta qualidade de sua poesia se mantém inalterada nos poemas políticos, ao contrário do que pensava o crítico e poeta José Paulo Paes, no artigo "Entre lirismno e ideologia", reproduzido na íntegra no site de Jacinta Passos (no tag "críticas"). A polêmica entre os dois grandes críticos literários ilumina aspectos essenciais da poética de Jacinta, e obriga seus leitores a refletir e a tomar posição.