Do historiador sergipano Valter Abano, morador em Barra dos Coqueiros (SE), sobre Jacinta Passos:
O segredo de Jacinta: Um mistério sem
resposta
*Valter Albano
Ela nasceu na fazenda Campo Limpo, município
de Cruz das Almas no recôncavo baiano, era novembro de 1914 (início da 1º
guerra mundial), oriunda de família abastada, tradicional e de grande
influência política, seu avô Themistoclis da Rocha Passos foi duas vezes Senador
da província e seu pai Manuel Caetano da Rocha Passos foi Deputado Estadual,
sua mãe, Berila Eloy, era extremamente católica assim como suas irmãs, das quais
Jacinta era considerada a mais carola.
Devido à atividade política do pai muda
com a família para Salvador onde forma-se na Escola Normal, sempre dedicada à
poesia, intensifica seus trabalhos literários ao lado do irmão Manoel Caetano
Filho, torna-se uma das mais importantes jornalista e ativista social na década
de 40 da capital baiana, abandona o catolicismo e se aproxima de intelectuais
comunistas como Jorge Amado, casa-se com James Amado (irmão mais novo
de Jorge Amado) em 1944. Filiada ao PCB, é candidata em 1945 a Deputada, não se elegendo.
Produziu uma pequena, porém rica obra
literária, objeto de elogios de renomados intelectuais como Mário de Andrade e
Antonio Candido, em 1942 publicou pela Editora Baiana o livro Nossos
Poemas, em 1943 em São Paulo publica Canção da Partida, pela
Edição Gaveta; no Rio de Janeiro, em 1951, Poemas Políticos, e por fim publica
em 1957 seu quarto e último livro, intitulado A Coluna, uma homenagem a
Luiz Carlos Prestes.
Em 1951 encontrava-se no Rio de Janeiro quando sofre sua
primeira crise nervosa com delírios, são os sinais da esquizofrenia. Em 1955,
separada do marido e da filha, volta a morar com os pais em Salvador. Por volta
do início de 60 vai morar na cidade de Petrolina, no estado de Pernambuco, em
1962 transfere-se para Sergipe, onde passa a morar na cidade de Barra dos
Coqueiros, num casebre as margens do rio Sergipe, possivelmente financiada pelo
PCB para desenvolver uma célula do partido. Possuía uma máquina de datilografar
onde, à noite, produzia poemas que eram distribuídos pelas ruas, participava de
reuniões com pescadores e atividades políticas com estudantes.
Presa em 1965 nas
dependências 28 BC e diagnosticada como esquizofrênica, é transferida
inicialmente para a Clínica Adauto Botelho e em seguida para a Clínica Santa
Maria, no Siqueira Campos, onde passa longos 8 anos pobre, doente e esquecida.
Morre em 28 de fevereiro de 1973. Sua vinda para Sergipe e os reais motivos de
sua atividade política ainda são mistérios que merecem um olhar mais atento.
Jacinta Passos faleceu aos 57 anos de idade escrevendo poesias até praticamente
o último dia de vida, e fiel à suas crenças.
*Historiador