25.3.13

Um mistério ainda sem resposta



Do historiador sergipano Valter Abano, morador em Barra dos Coqueiros  (SE), sobre Jacinta Passos:


O segredo de Jacinta: Um mistério sem resposta

*Valter Albano

   Ela nasceu na fazenda Campo Limpo, município de Cruz das Almas no recôncavo baiano, era novembro de 1914 (início da 1º guerra mundial), oriunda de família abastada, tradicional e de grande influência política, seu avô Themistoclis da Rocha Passos foi duas vezes Senador da província e seu pai Manuel Caetano da Rocha Passos foi Deputado Estadual, sua mãe, Berila Eloy, era extremamente católica assim como suas irmãs, das quais Jacinta era considerada a mais carola.
   Devido à atividade política do pai muda com a família para Salvador onde forma-se na Escola Normal, sempre dedicada à poesia, intensifica seus trabalhos literários ao lado do irmão Manoel Caetano Filho, torna-se uma das mais importantes jornalista e ativista social na década de 40 da capital baiana, abandona o catolicismo e se aproxima de intelectuais comunistas como Jorge Amado, casa-se com James Amado (irmão mais novo de Jorge Amado) em 1944. Filiada ao PCB, é candidata em 1945 a Deputada, não se elegendo.    
  Produziu uma pequena, porém rica obra literária, objeto de elogios de renomados intelectuais como Mário de Andrade e Antonio Candido, em 1942 publicou pela Editora Baiana o livro Nossos Poemas, em 1943 em São Paulo publica Canção da Partida, pela Edição Gaveta; no Rio de Janeiro, em 1951, Poemas Políticos, e por fim publica em 1957 seu quarto e último livro, intitulado A Coluna, uma homenagem a Luiz Carlos Prestes.
  Em 1951 encontrava-se no Rio de Janeiro quando sofre sua primeira crise nervosa com delírios, são os sinais da esquizofrenia. Em 1955, separada do marido e da filha, volta a morar com os pais em Salvador. Por volta do início de 60 vai morar na cidade de Petrolina, no estado de Pernambuco, em 1962 transfere-se para Sergipe, onde passa a morar na cidade de Barra dos Coqueiros, num casebre as margens do rio Sergipe, possivelmente financiada pelo PCB para desenvolver uma célula do partido. Possuía uma máquina de datilografar onde, à noite, produzia poemas que eram distribuídos pelas ruas, participava de reuniões com pescadores e atividades políticas com estudantes.
   Presa em 1965 nas dependências 28 BC e diagnosticada como esquizofrênica, é transferida inicialmente para a Clínica Adauto Botelho e em seguida para a Clínica Santa Maria, no Siqueira Campos, onde passa longos 8 anos pobre, doente e esquecida.
  Morre em 28 de fevereiro de 1973. Sua vinda para Sergipe e os reais motivos de sua atividade política ainda são mistérios que merecem um olhar mais atento. Jacinta Passos faleceu aos 57 anos de idade escrevendo poesias até praticamente o último dia de vida, e fiel à suas crenças.

*Historiador

     valteralbano@hotmail.com