7.4.13

Os muros das cidades



 
 
Os muros

                      Jacinta Passos

Minha cidade tem muros
de pedra, cimento e cal
tem muros que são tribunas,
painéis, cartilha e coral. 

 
Quem de noite faz as letras

que aparecem de manhã?

Será a mão do poeta

ou a mão da tecelã?

 
Viva Luiz Carlos Prestes!
O petróleo é nosso!

Fora com os americanos!

 
A polícia apaga e as letras

aparecem de manhã.

Será a mão do poeta
ou a mão da tecelã?

 
Minha cidade tem muros
brancos, cinzentos, de cores,

riscos de piche e carvão,

ó, pintores, vinde ver!


Vinde ler a história escrita
nos muros, cada manhã.

Será a mão do poeta
ou a mão da tecelã?

                                            (São Paulo, 1953)
                                       

Este poema, publicado no Suplemento Cultural do jornal comunista “Imprensa Popular“ em  25/07/1954, até agora jamais havia sido republicado. Ele me foi gentilmente enviado pelo pesquisador João Nascimento, a quem muito agradeço.
“Os Muros” foi escrito por Jacinta Passos em 1953, ano em que voltou a ser internada na Clínica Psiquiátrica Charcot, em São Paulo, onde já estivera no ano anterior, as duas vezes com o diagnóstico de esquizofrenia paranoide. Não se sabe se Jacinta compôs este poema durante sua segunda internação no Charcot (quando comprovadamente redigiu o longo poema "A Coluna", depois publicado em livro), ou durante o período em que morou em casa de sua irmã Dulce Passos, também na capital paulista, entre os dois internamentos. “Os Muros” integra a série de poemas políticos de Jacinta.

2 comentários:

João Renato disse...

Cara Janaína,
Não é necessário você postar esse comentário. Mas eu não achei "pixe" no dicionário, só encontrei "piche".
Copiei o poema e postei no meu blog.
Abraço,
João Renato.

Janaina Amado disse...

Caro João Renato,
Muito obrigada por republicar "Os Muros" e pela observação a respeito da palavra: você tem toda razão, só existe "piche", vou mudar agora mesmo no texto.
Antes da publicação do livro "Coração militante", foi feita uma revisão em todos os textos, incluindo os poemas de Jacinta, pelo poeta e ótimo revisor profissional Sidney Wanderley. Aqui, não sendo possível conseguir revisão para cada post, conto com a colaboração de leitores atentos, como você. Um abraço.